A Casa da Carnaúba de Várzea Queimada é um edifício que abriga a atividade de extrativismo sustentável do pó da carnaúba, o beneficiamento e estocagem da palha para o artesanato.
A Casa da Carnaúba de Várzea Queimada é um edifício projetado em parceria com a liderança da Associação das Mulheres Artesãs de Várzea Queimada, Marcilene Barbosa, que abriga a atividade de extrativismo sustentável do pó da carnaúba, o beneficiamento e estocagem da palha para o artesanato.
A Casa da Carnaúba de Várzea Queimada é um edifício projetado em parceria com a liderança da Associação das Mulheres Artesãs de Várzea Queimada, Marcilene Barbosa, que abriga a atividade de extrativismo sustentável do pó da carnaúba – matéria prima presente em indústrias de cosméticos, alimentícias e farmacêuticas – para sua comercialização dentro do modelo socioeconômico de Comércio Justo (diretamente para o beneficiador, sem atravessadores). É também o espaço para beneficiamento, com espaço de secagem e estocagem da palha para o artesanato.
A Associação de Mulheres Artesãs de Várzea Queimada nasceu em 2012, surgiu da necessidade de se auto-organizarem, com objetivos de formação, apoio e geração de renda. É uma organização de economia comunitária que visa criar oportunidades para a permanência no território.
Várzea Queimada está no semiárido brasileiro que ocupa 18,2% do território nacional. É o mais populoso semiárido do planeta, com 23 milhões de habitantes, 85% de sua área está em moderado processo de desertificação, e 9% é deserto (Instituto Nacional do Semiárido). Em Várzea Queimada, no coração do semiárido, vivem 900 pessoas, todas elas parentes e entre elas 47 surdos e mudos que desenvolveram um sistema próprio de comunicação gestual, uma protolíngua. Várzea Queimada faz parte da Chapada do Araripe, no Piauí, estado que se encontra na maior fronteira agrícola do país, junto aos estados do Maranhão, Tocantins e Bahia, o Matopiba. A região vive grande êxodo rural e constante ameaça de desapropriação territorial, uma diversidade sociocultural e ambiental ameaçada pela prática de monoculturas.
A arquitetura da Casa da Carnaúba tem dois ambientes circulares, forma que honra e cultiva a tradição do trabalho coletivo das mulheres artesãs. Além de funcional, a forma circular propõe a continuidade do trabalho em grupo, o diálogo e as rodas de conversa. Tem dois ambientes interdependentes, o espaço de secar a palha e o espaço guardar e bater a palha, unidas por uma estrutura de copa e banheiro e um espaço para armazenamento do pó da carnaúba, que resulta em uma implantação que assume a forma de um útero, lembrando o poder feminino da criação.
O edifício tem uma grande cobertura, uma única sombra que une o conjunto arquitetônico. A cobertura de telha isotérmica garante uma temperatura amena no espaço de trabalho e está suspensa pela estrutura de pilares permitindo a ventilação constante. Uma cinta de elementos vazados na parte superior dos edifícios potencializa a entrada da bisa, sem o desperdício do pó da palha que é uma matéria prima muito leve.
Este projeto fomenta o extrativismo sustentável, é um espaço onde se aprimora o modelo de governança de extração do pó da palmeira, uma nova fonte de recursos que surge com a inclusão da comunidade em um modelo de repartição de benefícios, programa do Ministério da Agricultura.
Do carnaubal as palhas são extraídas e o olho da palha, a parte mais nobre, vai para o espaço de secar em varais sob o calor da cobertura translúcida, fica protegido da chuva, que é rara, mas coincide com o período pós-colheita. Depois de seca, a palha é estocada no espaço de guardar, até que as artesãs possam bater a carnaúba e trançar o artesanato, retirando e guardando o pó para ser comercializado.
Várzea Queimada se afirma como um celeiro criativo a partir da permanência e reconquista dos seus saberes ancestrais através da arquitetura, do design e da arte, potencializando a força da comunidade no entendimento de sua articulação como um grupo, na luta pelos seus direitos coletivos.
Várzea Queimada faz parte da candidatura a ‘Patrimônio da Humanidade pela Unesco: Natureza, Tradição e Formação de um território encantado’. É a única comunidade do Piauí na Chapada do Araripe que faz parte do roteiro que compõe o dossiê para o reconhecimento desta rota como patrimônio cultural da humanidade, fortalecendo o povoado como parte do polo cultural fundamentado na sua identidade construída a partir da sócio biodiversidade.
Mercado Central de Belo Horizonte – MG
Fotos: Gabriel Cabral
Fotos: Renato Stockler
PRÊMIOS IAB – CULTURA ARQUITETÔNICA
CASA DA CARNAÚBA DE VÁRZEA QUEIMADA
Local
Povoado de Várzea Queimada, Jaicós | Piauí
Data de início do projeto
2019
Data de conclusão da obra
2023
Arquitetura
Rosenbaum
Equipe
Marcelo Rosenbaum, Adriana Benguela, Bárbara Fernandes, Thiago Benucci
colaboração: Gabrielle Astier
Construção
Engenheiro José Carlos dos Santos
Estrutura
Yopanan Rebello
Fotos
Renato Stockler
Metodologia | Gestão de apoio e recurso
A Gente Transforma
APOIO
L’Oreal
Garnier
Brasil Ceras
Kingspan Isoeste
Est