Nove objetos ou instalações artísticas autorais brasileiros compõem o espaço da Farm em Paris, que além de expor a coleção da marca e é também uma galeria
Nosso projeto para os 260m2 que a Farm ocupa no Le Bon Marché tem a proposta de apresentar o Brasil através de sua cultura.
Para apresentar a marca dentro de uma das mais importantes lojas multimarcas francesas, projetamos um espaço que além de funcional para a exposição da coleção, é também uma galeria. Para compor este espaço, selecionamos nove objetos ou instalações artísticas, que compõe um acervo cultural e desenvolvem um vocabulário sobre a Brasilidade, através destes produtos feitos à mão.
O produto feito à mão carrega o valor ancestral e a economia criativa, porque representa a relação das pessoas com o bioma, quando utiliza dos recursos disponíveis em cada paisagem para produzir objetos que representam sua visão de mundo e constroem sua identidade a partir da beleza.
Para compor este espaço como loja, galeria e ainda um espaço flexível para receber eventos culturais como pequenas apresentações musicais, oficinas de customização, uma grande canoa feita pela comunidade de Terra Preta marca o centro do espaço, sendo apoio para todas as ações e eventos, como uma praça. Cobrindo este espaço central, um mar de Folhas Sagradas dá um banho de axé no espaço. As paredes são todas revestidas com textura de sururu e recebem todas as roupas que vem coroadas pelas Bordunas dos Kayapós, embaladas na rede do projeto Akra que funciona como uma vitrine. Os provadores do Projeto Ponto Firme são uma experiência cheia de energia, e s palavras do Mestre constroem um vocabulário poético para esta experiência.
Esse projeto feito em parceria com a Farm, consolida o potencial de envolver arquitetura e articulação cultural para promover o reconhecimento destes trabalhos artesanais, impulsionar o reconhecimento do valor em cada um destes gestos artísticos de comunidades, mestres e artesãos, para que tenham condições de continuar criando e resistindo através do seu artesanato, se expressando criativamente e continuar existindo como possibilidade de economia criativa para os jovens de cada uma destas comunidades.
O projeto de arquitetura da Rosenbaum foi criado e desenvolvido pelo time Marcelo Rosenbaum / Adriana Benguela / Barbara Fernandes / Guilherme Pardini / Marcelo Venzon
Luminotécnico: Fernanda Carvalho
Relação com comunidades, artesãos e mestres: Instituto A Gente Transforma
Curadoria: Marcelo Rosenbaum.
“A natureza sempre foi nossa casa. Como um grupo de criativos do Rio de Janeiro, acreditamos na existência de felicidade, beleza e alegria de todas as cores e formas que a natureza traz. Há 20 anos, usamos a moda como plataforma para criar uma relação de cuidado com a natureza, engajada em manter viva a cultura local e inspirar transformações positivas.
Artistas e artesãos de várias partes do Brasil criaram os objetos de arte presentes na FARM APRESENTA, em uma manifestação do que há de mais belo e genuíno: manter viva nossa cultura ancestral por meio do artesanato feito com diferentes técnicas e materiais. Em parceria com a organização One Tree Planted, também asseguramos que a cada compra realizada aqui, uma árvore é plantada na Mata Atlântica e na Amazônia — a maior floresta tropical do mundo. Esse é o nosso convite para um movimento genuíno inspirado na natureza para fortalecer uma moda mais diversa, inclusiva e ética.
A curadoria é do brasileiro Marcelo Rosenbaum, renomado arquiteto, designer e professor à frente da Rosenbaum Arquitetura e Design e fundador do Instituto A Gente Transforma. Com uma carreira pautada pelo foco de democratizar o acesso ao design e à arquitetura, sua trajetória profissional inclui programas de TV, prêmios nacionais e internacionais, vivências criativas em comunidades do Brasil e a criação da metodologia Design Essencial, processo de inovação que une talentos locais à modernas técnicas de design e arquitetura.
“Criamos esse espaço para que as pessoas conheçam a beleza do Brasil por meio do Design. É o nosso ouro acima da terra, o design que emociona, que conta histórias, que mostra a relação dos artistas com sua ancestralidade e com cada bioma da nossa terra. Nosso convite é um passeio por esse país tropical de dimensões continentais a partir do que nós temos de melhor: nossa criatividade”
Marcelo Rosenbaum
Até 17 de junho, você é nosso convidado para percorrer este espaço e sentir, por meio de cada uma destas peças, obras e instalações, o que é ser um Amante da Natureza. Aqui celebramos, amamos, sonhamos e criamos, respirando natureza e arte enquanto transformamos a felicidade em roupa e estilo de vida.
Bem-vindo à nossa jornada inspirada na natureza. “ FARM RIO
As Folhas Sagradas representam as plantas que filtram a vibração do espaço com sua energia divina. Uma mandala verde sob a cabeça das pessoas que visitam a FARM RIO LE BON MARCHÉ.
Nas religiões afro-brasileiras, os deuses são orixás, a força da natureza. As plantas estão presentes em rituais que usam banhos, chás e rezas para promover o equilíbrio físico e emocional. É o “axé”.
A magia das ervas envolve um universo de mistério, energia vegetal e saberes ancestrais. É a natureza como ponte entre o homem e o divino.
A instalação Folhas Sagradas foi concebida a partir do estudo das folhas e sua relação com os rituais de cura pelo Lab UniPreta, coletivo de estudantes que une arte, moda e design em uma abordagem antirracista no bairro do Pirajá, periferia de Salvador, Bahia, a capital mais negra do Brasil. Na região fica o Parque São Bartolomeu, uma das maiores reservas de mata atlântica em área urbana do país e local de rituais e colheita de ervas para cultos.
São 400 folhas costuradas em tecido de pet reciclado da EcoSimples, e que receberam estampa em silk com arte do mestre Alberto Pitta, pioneiro na criação de estampas afro- baianas e referência na criação de tecidos que compõem os figurinos dos blocos afro do carnaval de Salvador. Sua obra traduz em cores toda a potência do axé da Bahia.
COMO O ENCONTRO DE UM GRANDE RIO, a canoa conecta todos os espaços da FARM RIO Le Bon Marché. Feita pela comunidade Terra Preta, na Amazônia brasileira.
CANOA, UMA ÁRVORE QUE FLUTUA PELAS ÁGUAS DOS RIOS, onde também habitam as misteriosas lendas da floresta.
Três pessoas da comunidade TERRA PRETA trabalharam durante duas semanas para fabricar essa embarcação de origem ancestral que conta a história de um povo e carrega a força de sua identidade.
RIBEIRINHOS, os povos tradicionais que vivem na beira dos rios, usaram seus saberes e mãos para construir essa canoa com madeira de manejo sustentável.
A Terra Preta é uma Reserva Legal que permite a utilização dos recursos naturais, ao mesmo tempo que assegura a conservação da biodiversidade local.
O RIO É O CORAÇÃO DA FLORESTA para a comunidade Terra Preta, que fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável, no Rio Negro, em Manaus.
Obrigado Comunidade de Terra Preta.
Diz a lenda que, quando um kayapó olha para o céu à noite, ele olha para o brilho de seus ancestrais. Sua identidade é definida pelos grafismos que marcam seus corpos, armas e artesanato. Valentes guardiões de suas terras, seus desenhos são inspirados na natureza, em animais e nos rastros que eles deixam pelo chão.
Bordunas são armas do povo indígena Kayapó que, no passado, eram usadas em confrontos com invasores. De difícil manuseio, exigiam dos homens esforço e habilidade. Na FARM RIO LE BON MARCHÉ, as bordunas são parte da estrutura dos expositores que suspendem nossas peças. Esses artefatos ancestrais dão destaque às roupas na loja e mantêm viva a memória de um povo que acredita ter vindo das estrelas.
As Bordunas foram confeccionadas com toras de madeira e palha na Terra Indígena Mekragnoti, no estado do Pará, no norte do Brasil. A venda de objetos é fonte de renda dos Kayapós e meio de promover sua cultura milenar.
Localizado no coração da Floresta Amazônica, o território de cerca de 6 milhões de hectares é uma terra indígena demarcada, coberta por grandes matas e rios que garantem às famílias alimentos e remédios naturais.
Obrigado Instituto Kabu.
Presente em quase todos os lares do Brasil, a rede é uma das maiores heranças afetivas dos povos originários da América do Sul. Na FARM RIO LE BON MARCHÉ, o conforto que embala os corpos no repouso e no sono é representado pela Rede de Barreirinhas, cidade do interior do estado do Maranhão.
Na entrada principal do espaço, a Rede dá as boas-vindas aos visitantes, envolvendo a todos na atmosfera tropical do Brasil, que tem a maior diversidade de palmeiras e, portanto, de palhas, do mundo. Feita de crochê com a palha das folhas de Buriti, a palmeira abundante na região é uma entidade para os nativos, a árvore Mãe e fonte da Vida, já que dela se aproveita tudo e se faz o sustento das famílias.
Produzidas por mãos habilidosas em um processo criativo e minucioso, foram necessárias mais de mil horas para a peça ficar pronta, do preparo dos fios e do tecido à costura e tingimento com corantes naturais. São diversos formatos, cores e materiais impregnados nos elementos estéticos da cultura de Barreirinhas.
O trabalho é uma parceria dos artistas locais com o Projeto Akra, que reúne mais de 150 artesãos nos estados do Maranhão e Bahia e apoia o reflorestamento de diferentes áreas impactadas por suas iniciativas.
Barreirinhas tem 55 mil habitantes, que vivem na região dos Lençóis Maranhenses e tem no artesanato uma de suas principais fontes de renda.
Obrigado Projeto Akra.
Os móveis produzidos na Ilha do Ferro, em Alagoas, nordeste do Brasil, carregam a grandeza do imaginário fantástico dos artesãos locais. No pequeno povoado, troncos de madeiras viram serpentes, bancos têm silhueta de animais e o mobiliário se transforma, quase que por encanto, em um céu estrelado.
Cada peça é uma obra de arte única feita a partir da intuição e da criatividade de cada artista, como as cadeiras da FARM RIO LE BON MARCHÉ, que florescem em madeira onde pousa um pássaro. É como se quem sentasse ali fosse abraçado pela alegria esculpida por mãos encantadas.
Quase todos os nativos da Ilha de Ferro são artistas populares e mestres artesãos, denominações que, no Brasil, englobam aqueles que embora não tenham frequentado escolas especializadas, possuem uma produção artística de valor relevante. As peças talhadas em madeira são esculturas que representam os sonhos de um povo que acredita que sem arte não existe vida.
A ilha do Ferro fica na região mais seca do Brasil, a Caatinga, na beira do Rio São Francisco, um dos mais importantes cursos d’água do Brasil. O local, no entanto, não é uma ilha: como antigamente não havia estradas, para se chegar ali era preciso atravessar as águas do “Velho Chico”, como o rio é popularmente conhecido. Grande tradição na criação da arte popular, com peças fabricadas com madeira, barro e bordados, é um dos mais expressivos pólos de produção de arte popular do Brasil.
Da terra seca e quente do sertão, nasce a Carnaúba, a exuberante palmeira encontrada típica da região semiárida do Nordeste brasileiro. É dela que vem a palha usada para trançar o Bogoió, cesto de design único feito em Várzea Queimada, no Piauí, em parceria com o Instituto A Gente Transforma, e que está presente na FARM RIO LE BON MARCHÉ.
A cestaria que antes era usada para carregar alimentos, hoje leva as histórias de Várzea Queimada para dentro e fora do país, legitimando a identidade de seu povo e seus saberes tradicionais.
Os Bogoiós foram confeccionados por 35 mulheres artesãs que aprenderam com suas antepassadas esse fazer manual ancestral. Longas fitas de carnaúba são trançadas e costuradas umas às outras com um fio de coroá, planta que também nasce na região. Um trabalho que leva tempo, exige paciência e entrega.
Há 10 anos, foi criada a Associação de Mulheres Artesãs de Várzea Queimada, organização de economia comunitária que visa gerar renda e fortalecer o coletivo. O artesanato proporciona ao povoado liberdade, autonomia e, acima de tudo, reconhecimento do seu talento.
Várzea Queimada fica na Chapada do Araripe, no Piauí, na zona rural da cidade de Jaicós e na fronteira com o estado de Pernambuco.
Obrigado Várzea Queimada.
Por meio de palavras talhadas em madeira pelo Mestre Ribamar da Santinha, expressamos nossa alma brasileira na FARM RIO LE BON MARCHÉ traduzida para três línguas: português, nosso idioma nativo; inglês, para os visitantes de todas as partes do mundo; e francês, língua da casa que nos hospeda.
Mestre Ribamar começou seu ofício aos 50 anos de idade e hoje é um dos artistas mais conhecidos do Piauí, estado famoso por seus mestres santeiros – escultores de santos em madeira.
Seu trabalho ganhou notoriedade pelas cores: ele é o único que colore seus santos, resultando em uma linguagem otimista que une fé, alegria e esperança. O vocabulário foi feito especialmente para a FARM RIO em um trabalho esculpido em madeira de cedro e pintado com as cores vivas, os adereços e as estampas típicas do repertório de Mestre Ribamar.
A arte popular brasileira celebra a vida e a natureza incorporando elementos do imaginário coletivo para expressar sua identidade. É a força vital do nosso país, com sua estética e simbologias próprias.
Mestre Ribamar da Santinha nasceu e mora em Teresina, capital do Piauí, no Nordeste do Brasil. É um estado rico em mestres populares e manifestações culturais.
O encontro tropical da água doce com a salgada faz surgir o manguezal: um ecossistema rico em matéria orgânica onde vive o Sururu, molusco encontrado nas lagoas do nordeste do Brasil e iguaria da culinária local. Suas conchas são a matéria-prima principal das paredes da FARM RIO LE BON MARCHÉ.
O trabalho dos pescadores começa na escuridão da madrugada, horário em que o único ruído é o dos remos deslizando nas águas. Com a maré ainda baixa, esses bravos guerreiros mergulham na lama para trazer, com as próprias mãos, os moluscos presos no fundo da Lagoa do Mundaú, em Alagoas, capital de Maceió.
Os Sururus destinados à alimentação geram cerca de 300 toneladas de resíduos de conchas por mês. Uma parte desse material, que antes era descartada de maneira informal, agora ganha outro destino por meio do projeto Maceió Mais Inclusiva. As conchas do Sururu são trituradas e usadas para compor o revestimento texturizado.
Pescadores e marisqueiras da comunidade do Vergel recebem em troca dos resíduos das conchas o “sururote”, moeda social criada para incrementar suas rendas mensais.
É o poder de inovação da Economia Circular: da lama nasce a iguaria, que gera o resíduo e que se transforma em revestimento texturizado para construções. Um material sustentável que modifica, para melhor, a vida dessas pessoas que têm na pesca do Sururu a sua principal fonte de renda.
A Textura de Sururu foi desenvolvida por Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrósio e produzida pela Ibratin.
Obrigado Maceió Mais Inclusiva, Bid (Banco Interamericando de Desenvolvimento), Prefeitura de Maceió, Ong Mandaver, Artesão Itamácio Alexandre, Portobello e Ibratin pela parceria neste projeto.
Casulos são abrigos que protegem o ser até o momento de sua libertação. Remetem às cavernas, ao ventre e sugerem tempo de recolhimento para a transmutação.
Na FARM RIO LE BON MARCHÉ, os casulos são provadores que convidam a uma experiência imersiva dentro de uma obra de arte feita à mão carregada de afeto e delicadeza.
As enormes franjas de crochê são execução do projeto Ponto Firme, que utiliza a moda como ferramenta para a transformação social de detentos e ex-detentos.
Quarenta homens participaram da confecção dos Casulos, trabalho 100% manual que possibilita novas perspectivas de trabalho fora do encarceramento. Foram mais de 500 quilos de algodão crochetados em um processo que quebra os estereótipos da masculinidade, permitindo a essas pessoas exercitar a sua sensibilidade com a pausa e a leveza do trabalho manual.
O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo e ações como o projeto Ponto Firme mostram que a moda vai além do ato de se vestir; é, também, um fenômeno social de comunicação e transformação.
Os provadores Casulos foram feitos na Penitenciária Adriano Marrey, em Guarulhos, cidade próxima à maior cidade da América Latina, São Paulo, e representam arte, resistência e possibilidades.
Obrigado Projeto Ponto Firme e Gustavo Silvestre pela parceria.
LE BON MARCHÉ / Paris
24 Rue de Sèvres, 75007
Fotos: Flavia Ribeiro
Arquitetura
O projeto de arquitetura da Rosenbaum foi criado e desenvolvido pelo time:
/ Marcelo Rosenbaum
/ Adriana Benguela
/ Barbara Fernandes
/ Guilherme Pardini
/ Marcelo Venzon
Luminotécnico:
Fernanda Carvalho
Relação com comunidades, artesãos e mestres: Instituto A Gente Transforma
Curadoria:
Marcelo Rosenbaum
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Folhas Sagradas do Lab UniPreta
O Lab UniPreta é um projeto criado por @NiviaLuz, @MRosenbaum @apitta73 @adrianabenguela e a e A Incubadora Tecnológica de Economia Solidária da Universidade Federal de Alagoas (ITES/UFAL) @leonard_leal, com a coordenação de @ivaldinojunior.
O lab UniPeta tem o apoio institucional da @adrorofarm <3
Coletivo Lab UniPreta:
/ Adriana Bacelar
/ Alicia Sacramento
/ Diana Barbosa
/ Ivanice Santos
/ Jamile Araujo
/ Jussi Cruz
/ Laila Morgana
/ Leila Saron
/ Lorena Borges
/ Malvina santos
/ Maria Antonia
/ Marinalva Santos
/ Maurício Lobo
/ Miralva Santos
/ Odete Mendes
/ Simone Jesus
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Sururu do Mundaú
A Textura de Sururu foi desenvolvida por Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrósio e produzida pela Ibratin.
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Vídeos
Todos os vídeos foram produzidos pela @yam.com.vc > @zanin_fabi @clasoneghet @_veronica @lemeligia Renan Ramiro e Clara Bastos
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Imagens dos vídeos de Canoa de Terra Preta e Bordunas dos Kayapós
Loiro Cunha
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Imagens do vídeo de Rede de Barreirinhas
Projeto Akra